sexta-feira, 16 de agosto de 2013

OS FILHOS DE CHICO MARIANO


                    OS FILHOS DE CHICO MARIANO



Meu bisavô, Chico Mariano, teve vários filhos, todos eles gerados em Lambari, Minas Gerais. Quando migrou para São José do Rio Pardo, a prole o acompanhou.

Lembremo-nos de seus filhos.

João Gualberto Nogueira (João Mariano), era o filho mais velho. Quando nasceu, em Águas Virtuosas do Lambary, em 1861, a vila era distrito de Campanha. Casou-se com Anacleta Alves de Melo, que lá em casa era conhecida como "tia Necreta". Tiveram muitos filhos: José (21.12.1891), Brasilina, Benedita (1898), Julieta Cândida Nogueira, casada com João Alves de Melo Jr., seu primo, filho da "tia Mulata", e que morreu com apenas 23 anos  em Mococa, Pedro (1905), que seduzirá a prima Zenaide, dando origem a um momento difícil na família, Sebastiana, João, Ana, Carmela. Algumas das garota nunca se casaram.

A família de João Mariano rivalizavam com a família de meu avô, Adolpho Cândido. Acusavam uns aos outros de invejosos. Minha avó, viúva muito jovem, ciosa da reputação de suas filhas, acusava as filhas do cunhado João Mariano de serem levianas. Andavam sozinhas à noite sem a guarda de uma pessoa da família. Tinham namoricos. As fofocas circulavam. Meu bisavô, Chico Mariano, não via aquilo com bons olhos. Mineiro durão, aconselhava o filho que pusesse freio nas filhas. Mas o que João Mariano sonhava era que as filhas se casassem com os primos. As fofocas dizem que meu pai, o Zeca, andava com as primas na garupa do cavalo, o que era um verdadeiro escândalo. Enfim, a sociedade repressora da época fazia barulho por pouca coisa. E as primas difamadas acabaram solteiras, e sós! De qualquer maneira, minha mãe também criticava as cunhadas, que tachava de levianas... A tia Carmem era motivo de comentários...

Meu cunhado Pedro relata a grande amizade que havia entre seu pai e João Mariano. Visitavam-se. João Mariano era um Nogueira típico, com discurso provocador. Para cutucar as mulheres que conversavam placidamente, convidava jocosamente: "Zequinha, mais tarde vamos dar uma passada na zona?" Tia Inácia ficava enciumada porque as filhas do João Mariano, "com pernas gordas" vinham sentar-se no colo do marido, o tio Zequinha. Tia Lisota não entendia como este meu tio-avô vivia. Tinha um emprego de lixeiro na prefeitura, conduzindo a carroça com o burro pelas ruas da cidade. Ganhava 120 mil réis por mês... Mas quem o ouvisse conversar... era um doutor!

Maria Fermina Nogueira, é minha tia-avó paterna, que virá a ser minha bisavó materna (esta família tem um lado incestuoso histórico...). Casou-se em primeiras núpcias, segundo minhas deduções, com um Nogueira, talvez seu primo, de quem teve vários filhos. Em um segundo casamento, com Manoel Ignácio de Melo, natural do Carmo, M.G., continuou procriando vários rebentos. Pobre bisavó, que foi criticada talvez por se casar duas vezes, e por alimentar a fantasia de que as filhas de meu tio-avô eram doidivanas. Fofocavam a seu respeito, por seu desejo incontido, por sua sexualidade exuberante para a época. Vagas notícias de infidelidade. Talvez seu filho Alfredo fosse filho bastardo de um turco... Bravo, bisavó! Estou com você, para defendê-la. Vamos a seus filhos.

Meu avô materno, João Batista Nogueira, de quem ainda falaremos muito em outro lugar.

Alfredo Nogueira (chamado, lá em casa de "tio Alfredo"), que despertou uma paixão fulminante em uma sobrinha, Maria, irmã de minha mãe. Reprimida, entrou em melancolia profunda, foi definhando, tuberculosa, e morreu. Encontrei seu registro de batizado na Igreja Matriz de São José do Rio Pardo. Tio Alfredo é lembrado por minhas irmãs Lisota e Mariinha, do tempo em que iam à escola, em São José do Rio Pardo, e ele lhes dava carona na volta para casa. Muitos anos depois, a Lisota foi visitá-lo, no Tatuapé, em São Paulo, onde morava "perto da linha do trem". Morava com a irmã Quininha, que gostava de uma pinga. Casou-se e teve filhos.

Júlio Cândido Nogueira, que se casou com Urbana Aparecida, conhecida por Banica, em 23.06.1906, conforme certidão de casamento. Era meia-irmã de meu tio Albertino de Matos, e nossa vizinha em Itobi. Ela já era viúva quando eu e minha mãe íamos visitá-la, numa casinha infecta de esquina, rescendendo a urina, escura, de janelas eternamente fechadas. Magérrima, enrugada, envolta em trapos, sentada num catre, tirava baforadas de um pito de barro. Os urinóis transbordavam embaixo da cama, empesteando o ar. Sua nora, baixinha, risonha, cabelo pixaim, amulatada, tinha um filho pequeno, que brincava nu na rua, mostrando um pinto enorme, que causava admiração aos passantes... E mais outras crianças de nariz escorrendo, barrigudinhos, chafurdando na lama da rua... Meu cunhado Pedro se recorda de quando eles moravam no rio Verde e topavam na estrada com a família da Banica numa estradinha qualquer. Ao avistá-lo, mesmo sendo um primo, se metiam no mato, encabulados, envergonhados de um simples bom dia, evitando um dedinho de prosa que fosse. Um dia ouvi dizer, lá em casa, que a Banica estava com câncer, palavra impronunciável em minha casa. Teve uma morte dolorosa. Tem descendentes em Itobi e em Casa Branca.

Já falei que esta minha bisavó convolou segundas núpcias com Manoel Ignácio de Melo, natural do Carmo, M.G., filho de Domiciano José de Melo e Ignácia de Souza. Teve com ele alguns filhos:

Horácio de Melo, com vasta descendência em Casa Branca, segundo meu cunhado Pedro Madureira.

Delmira de Melo, que se casará com José Ferreira, o Zeca Emboava, meu tio-avô materno, com descendência em Tambaú.

Vina (?), com problemas de deficiência mental, e que viveu até morrer com a irmã Delmira, em Tambaú.

Perciliana Cândida Nogueira, a "tia Mulata", que convola núpcias com João Alves de Melo. Seu filho, João Alves de Melo Jr., casar-se-á com a prima Julieta, filha de João Mariano, de morte prematura.

Evarista Cândida Nogueira, que pelo casamento se tornou Evarista Cândida de Aguiar, espera aí, mas em algum lugar vi que era viúva de Joaquim Inácio de Mello... Será que se casou duas vezes? Morava ali ao lado do cemitério do Artese, em São José do Rio Pardo. Uma casinha humilde, não muito limpa, dizem os fofoqueiros. Na porta da cozinha ficava um papagaio, numa alcândora imunda, espalhando detritos para todo lado. Tia Evarista, como todas as velhas do seu tempo, vivia metida em roupas pretas, saias longas, recatadas, lenço na cabeça, aparência decrépita... A sexualidade coberta, oculta, disfarçada, recusada, ao contrário da irmã, minha bisavó Maria Fermina. A minha irmã Lisota se lembra de levar encomendas da vó Mariquinha à sua casa. Recebia um naco de pão duro e brincava com a Lolinha, uma sobrinha que ela criava. Ah... esta Lolinha neste ambiente repressor acabou sendo considerada uma garota "danada", interessada em rapazes, "ai, meu Deus!" Engravidou. A Mariinha do tio Castor criou a criança. (Qual o nome dela, ó família, ó São José do Rio Pardo?).

Os filhos de tia Evarista me chegam nublados.

Almerindo, que a tia Lisota do Buracão chamava de Levino, pai da Nenzinha da Padaria Alemã, linda, linda, casada com o Frigo.

O Clóvis, que bebia muito, e estava sempre na cadeia.

O Quincas (Joaquim?) casado com  a Rosina, que tinha um boteco perto do hospital. A Rosina fazia salgados e doces para aqueles que vinham visitar os parentes doentes. Este Quincas tinha um hábito estranho, vivia olhando para o céu, observando os astros através de um canudo, algo meio maluco, predizendo coisas, vendo extra-terrestres e assemelhados. Dizem que tinha uma estante cheia de livros e gostava de ler. Viu? Quem lê muito... só pode ser louco...

José, só tenho este nome assim, de um dos meus tios-avós, filho de Chico Mariano. Mas no meu álbum de família, uma foto desbotada, esmaecida, pertence a ele. Magro, nos seus quarenta anos, de terno branco e colete, chapéu, gravata, botas. E um grande bigode. Ar simples, mas digno. Pouco sei dele. Um administrador de fazendas? Não sei quem me disse que teve vasta prole. 

Francisco, Francisca (tia Chiquinha), só nomes para mim. Nada restou dele, nenhum sinal, nenhuma memória. Meus tios-avós. Pode ser que em cem anos eu também seja somente um nome. Ou nem isso!

Adolpho Cândido Nogueira, meu avô. Para ele eu reservo uma página especial. Aguarde!

Certamente meu bisavô teve outros filhos. Que o tempo consumiu. Nem sombra deixaram. Para nós!







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