sexta-feira, 16 de agosto de 2013

BISAVÓS MATERNOS

                                                         
                                                O LADO MATERNO

Olhando meu lado materno e meu lado paterno, instala-se um contraste curioso. O sangue paterno é solar, macho, agressivo. Homens e mulheres altivos, de voz forte, quando não sarcástica, nariz erguido, língua atrevida, extrovertidos, ativos, conscientes de si, assertivos. 

A tribo de minha mãe é nitidamente lunar. Meigos, de voz macia, olhares profundos e vagos, tímidos, pacientes, resignados. Seres descarnados, consumidos pela melancolia. Suas vidas são um ordálio que suportam na esperança de outra vida.

Olhando de perto, reconheço em meus irmãos traços de um e de outro lado. Uns solares como Valdemar, Zezão, Mariinha, Helena. Outros lunares, como o Válter, a Zelinda, a Vera, a Teresa, a Lisota, e eu. Obviamente, todos têm um raminho do outro.

Meu bisavô João Francisco Ferreira nasceu ali por 1850 na Ilha da Madeira, pleno Atlântico, sol e verde, montanhas e mar. Filho de João Francisco Ferreira e Antônia Luiza. Com cerca de 20 anos emigrou parra o Brasil. Vamos encontrá-lo, não sei por que venturas, em Águas Virtuosas do Lambary, casado com  Francisca Cândida de Melo, brasileira, natural de Lambari, filha de João Alves de Melo e Anacleta. Tiveram poucos filhos, três dos quais guardamos memória: Elísia (minha avó), José e Inácia.

Há vagas histórias de que meu bisavô João, em Lambari, trabalhava em um munho onde se trocava o milho por fubá, e se produzia a farinha de milho, crocante e saborosa. Havia o monjolo, uma roda d'água, uma casa portuguesa... Quando meu outro bisavô, Chico Mariano, partiu para São José do Rio Pardo, certamente o acompanhou. Acredito que as minha bisavó materna era parente da minha bisavó paterna - eram ambas Melo! Talvez fossem irmãs... primas... Foram para São José do Rio Pardo em lombo de burro... Os filhos José e Elísia num jacá, no lombo de um cargueiro (alimária de carga), bruacas e canastras pelos picadões abertos no mato... Viagem longa e cansativa, pousando aqui e ali, nos ermos... Mas não haviam cruzado o mar? Agora cruzavam um mar de morros... E chegaram a São José do Rio Pardo!

Na nova terra, em 30 de dezembro de 1889, nasceu mais uma menina, Inácia. Minha bisavó Francisca morre jovem, creio que ali por 1897. Viviam num sítio, no Bate Saco, à beira do Rio Verde. Falarei alhures a este respeito.

Falemos de seus filhos.

José Ferreira, conhecido como Zeca Emboava, casou-se com Delmira de Mello, minha tia-avó, filha da bisavó Maria Fermina. Morou boa parte da vida em Tambaú, onde tinha uma vendinha. Teve muitos filhos: Inês, João, José, Davi, Daniel. Vivia com sua família a Vina, a cunhada, deficiente mental, que morreu jovem. Dizem que sua família tinha um ar atoleimado, simplório. Eram muito unidos. A tia Inácia vinha com os filhos passear por semanas na casa do irmão.

Daniel veio para São Paulo ganhar a vida, se sentiu citadino e superior. Voltou para o interior, a passeio. Interessou-se pela prima Nelsa. Era atrevido, deixou a família com um pé atrás. Surgiram rumores de que queria roubar a prima - naquele tempo usava-se! Ele realmente se sentia o cara. Minha mãe estava grávida de mim, e ele divertia-se com meu pai, rindo grosseiramente: "Nesta idade, ainda funciona?" Mas sua atitude debochada o afastou da família. Mas casou-se (não com a prima Nelsa que cobiçava...), teve filhos, que ainda vivem em Tambaú, certamente casados e com descendência.

Soube que Davi morreu com problemas mentais no hospital psiquiátrico em Cocais, próximo a Casa Branca.

Em Itobi havia o João Bobo (assim o chamávamos), que alegava ser nosso parente. Talvez fosse sobrinho ou neto do José Ferreira. Alto, corpulento, andava falando sozinho pela rua. De vez em quando pegava o trem e ia para Tambaú. Almoçava na tia Dirce. Guloso, aceitava o convite para almoçar de novo na tia Benvinda. Era filho de uma tal Inacinha - agora que estão todos mortos, não sei qual era o parentesco conosco. Era da família do meu tio-avô Zeca Emboava... Ainda o vejo, com seu terno ensebado, engravatado, sujo... Nos assustando na rua...

A Inácia (tia Inácia, como a chamávamos), a mais nova, casou-se com José Luís Madureira (Zequinha Graciano), com quem teve cinco filhos: Francisca (Sanin), Nelsa, Luís Antônio (Luisico), Pedro (meu cunhado) e Idalina (Lina). São parentes que permaneceram sempre ao lado da família de meu pai, e de quem tenho muitas histórias para contar.

Elísia, minha avó, terá um capítulo especial, aguardem.




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